
A dificuldade em confiar nas pessoas pode ter influências diversas, mas antes de pressupormos que essa dificuldade se restringe às pessoas, vale se perguntar: é difícil confiar? No mundo, nas pessoas, na vida e em si mesmo?
A confiança demanda entrega, requer reconhecer e possivelmente compartilhar nossas vulnerabilidades. Se mostrar vulnerável, compartilhar nossos pontos de dor nem sempre é fácil. Essa é uma dificuldade que pode ir ao encontro à nossa demanda por controle e quanto mais essa necessidade é intensa, mais ela denuncia os nossos medos.
Mas antes de cair em um simplismo que indica o que supostamente devemos ou não fazer, seria importante entender o porquê precisamos da sensação de controle. E essa pergunta nos conecta novamente aos nossos receios: viver dá muito medo, não saber o que vai acontecer é muito assustador e perigoso (mas sinceramente é isso que está acontecendo o tempo todo – se não fosse nossa tentativa insistente em acreditar que sabemos o que nos espera à nossa frente). Então, nos organizamos para tentar prever os próximos acontecimentos, para que na medida do possível, possamos nos preparar para lidar com eles. Por isso é um trabalho mais lento e difícil do que gostaríamos: é um exercício que nos reconecta com esse conteúdo amedrontador.
A medida em que sustentamos nossas vulnerabilidades, podemos confiar mais na vida.
Quanto menos sustentamos nossos medos e nossas vulnerabilidades, mais precisamos recorrer à inflexibilidade, mas paradoxalmente, tudo que é inflexível demais (rígido demais) tende a quebrar enquanto os materiais com mais flexibilidade se mostram mais resistentes, pois conseguem se adaptar às condições do espaço que vive. Isso não é um trabalho tão simples, mas é possível. Com o passar do tempo vamos conseguindo confiar mais em nós mesmos, na vida e nas pessoas que habitam nela. Vamos nos humanizando e humanizando o mundo ao nosso redor.
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